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Entrevista com Keberson Bresolin

Coordenador do PIBID e Professor Dr. na Área de Filosofia da UFPel

 

 

PIBID Filosofia: O que você, como coordenador, espera do trabalho do PIBID?

 

Keberson: Não é nenhum segredo que sou iniciante no PIBID (risos), então, algumas coisas ainda são novidade. Grande parte do processo conheço teoricamente, mas na prática ainda não tive a experiência. Imagino ser de uma forma, mas provavelmente será de outra.

 

O convite foi feito; eu já tinha ouvido falar do projeto, de sua importância acadêmica e social para inclusão dos licenciandos para dentro da comunidade escolar. Aceitei o convite sabendo do desafio, são 25 bolsistas que trabalharão com supervisores e com alunos dentro de uma escola. Perdemos a linha causal e de consequência que nossos atos acabam gerando, sendo assim, vejo no PIBID um papel extremamente importante valendo a pena o investimento quando visa na aplicação à docência, além do trabalho com textos sobre Educação.

Para nós coordenadores é um trabalho importante. Se eu tivesse tido a oportunidade de trabalhar enquanto aluno, poderia ter me preparado melhor. Afinal, existe uma exigência de produção, formação, etc. Uma reciprocidade de conhecimento, de aprimoramento pessoal e coletivo. Sem duvida é um dos grandes projetos que a CAPES tem.

 

PIBID Filosofia: Como foi sua experiência com o ensino de filosofia no Ensino Médio?

 

Keberson: Extremamente impactante em minha vida. Comecei a dar aulas no ensino superior com 24 anos, tinha acabado de terminar meu mestrado. Trabalhava em um instituto em Porto Alegre - RS que tinha faculdade de filosofia. Não tinha então a experiência com a educação básica. Após defender o Doutorado na Alemanha, apareceu a oportunidade de trabalhar no Ensino Médio em Caxias do Sul - RS. Tinha uma concepção extremamente academicista no ensino médio, acabei precisando repensar o método de dar aulas. Na educação superior não há certa preocupação com a motivação do aluno, ele esta ali por uma escolha. No ensino médio há uma preocupação bem maior, trazendo uma inserção, uma motivação - sendo a adolescência uma fase de várias dúvidas e questões, essas inquietações me ajudaram a entrar com a filosofia, problemas referentes a vida pessoal - éticas e morais - enquanto o conhecimento - o que seria o conhecimento. Partindo de suas próprias inquietações pude desenvolver deveras temáticas especificamente filosóficas. Foi uma das melhores experiências, tive que reaprender a dar aulas. Vale muito a pena.

 

PIBID Filosofia: O que você pensa sobre a filosofia no Ensino Básico (Ensino Médio)?

 

Keberson: A filosofia é fundamental, nós vivemos num sistema de pensamento onde quem é valorizado é quem produz alguma coisa. Alguns criticam o envolvimento da filosofia em outras áreas. Não fazemos uma ciência como a Física, por exemplo. Somos um tipo de conhecimento muito particular e nós temos uma metodologia muito própria de produção científica, trabalhando com questões bibliográficas e alguns dados que as vezes são relevantes com nosso estudo. Não há uma preocupação de produzir algo, como a produção de um carro.

 

A filosofia tem esse papel de entrar no mundo do adolescente, na construção de um caráter crítico, de uma atitude crítica - filosófica. Certamente o maior e mais importante instrumento que a filosofia tem para contribuir para os adolescentes. A partir daí podemos desenvolver vários temas. Tive alguns feedbacks mais interessantes com temas que trabalhava, as vezes paralelos com a Universidade, no Ensino Médio do que na faculdade. Realmente a filosofia, sem dúvida, tem que chegar para ficar no Ensino Básico, pois ela faz na perspectiva da história do pensamento o levantamento de tópicos relevantes para a atualidade.

 

Penso que a filosofia faz, também, um papel social de não produzir “indivíduos em série”; Defendi na minha tese de doutorado: "um cidadão que possui muitos conhecimentos não implica necessariamente que será um cidadão esclarecido". Uma pessoa esclarecida é um cidadão que faz autocrítica, avalia a sua situação, não aceita o que é oferecido de primeira como uma mercadoria. Hoje o que se pensa é que uma pessoa esclarecida tem muito conhecimento. Não, provavelmente muitos dos defensores do III Império alemão, do Nazismo, eram pessoas com conhecimento extremamente avançado. Esse é o conceito de esclarecimento que interpreto a partir de Kant – embora tal conceito já tenha sofrido muitas críticas como, por exemplo, a Escola de Frankfurt realizou, ainda é fonte inesgotável de reflexão inclusive. Então, não significa dizer que pessoas que tem grande capacidade de aprendizado seja uma pessoa esclarecida. A filosofia tem esse papel - aborda perspectivas e pontos de vistas de forma diferentes.

 

PIBID Filosofia: E os Artigos Acadêmicos? São só produção teórica ou tem que ter algum respaldo na comunidade?

 

Keberson: Existe uma preocupação na produção com artigos especializados, pois são um público extremamente específico. Dá para atingir um público mais abrangente com revistas e jornais, mas é uma questão antiga - valorização do bacharelado por ser mais científico. A verdadeira transformação que pode acontecer na comunidade é quando você trabalha direto com as pessoas fazendo um bom trabalho, formando bons docentes e boas pessoas que irão, talvez, influenciar outras pessoas virando uma rede recíproca de relações. O nicho de pessoas que os artigos especializados atingem é pequeno (falando em número), o que não é um problema. Nós precisamos de um material de qualidade de dentro das próprias universidades para poder ir para o âmbito prático. E o PIBID vem para somar em relação a tudo isso.

 

PIBID Filosofia: Qual foi a sua primeira impressão com o grupo do PIBID?

 

Keberson: Existe um pessoal que está completamente mais seguro que já vem do projeto antigo do PIBID, já conhecem o processo, as dinâmicas, conseguem ter a linha de visão de como vai acontecer e tem gente que está iniciando no PIBID, inclusive que é do primeiro semestre na filosofia. É natural que o pessoal que está iniciando sinta-se inicialmente um pouco “desconfortável”, pois muitos ainda não conseguem visualizar as etapas do desenvolvimento e implementação do PIBID, assim como eu. Mas isso não é um problema, antes uma motivação para buscar ainda mais. Temos um grupo, geral, bem entusiasmado sendo um grupo que tem tudo para crescer. O PIBID exige um perfil do Pibidiano. Sendo o PIBID Filosofia bem visto, torna a responsabilidade mais ampla melhorando esse nível já grande. Um direcionamento cooperativo entre os coordenadores e bolsistas.

 

Considerações Finais

 

Keberson: O PIBID é um dos maiores se não o maior projeto da UFPel. É um projeto mantido por uma instituição de extrema competência, extremamente respeitada no Brasil - CAPES - que financia e incentiva os maiores cientistas e professores do Brasil. O PIBID tem um investimento gigantesco, tendo só na UFPel um número de quase 500 bolsistas em 17 áreas. Um projeto realmente grandioso. Um projeto que nós todos fazemos nossa parte, dando esse respaldo todo no Brasil afora. Influenciando tanto na vida das pessoas (alunos, coordenadores, supervisores), acabamos perdendo a linha de consequência de quanto influenciamos outras pessoas. Existem pessoas que te dão um insight sobre o que você falou ou o modo como você abordou as questões.

 

As pessoas que estão chegando, assim como eu, sentem-se um pouco “deslocadas”, mas precisamos ter paciência, pois é uma questão de experimentar mesmo. E quem já vivenciou tem essa tranquilidade de saber como vai ser implementado os passos. O pessoal que esta entrando, a palavra que eu tenho é: tranquilidade! Daremos um passo de cada vez. Estamos todos bem amparados e nós vamos realizar o projeto e fazer as coisas acontecerem, essa é a ideia!

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