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Entrevista com Pedro Gilberto da Silva Leite Jr. 

Coordenador do PIBID e Professor Dr. na Área de Filosofia da UFPel

 

 

 

PIBID Filosofia: O que você, como coordenador, espera desse novo Projeto PIBID? E do novo grupo do PIBID?

 

Pedro: Bom, para dizer o que eu espero desse novo grupo, eu tenho que remeter à trajetória que tivemos até aqui. Na verdade, nesses anos - que começou com a Profª. Dra. Sônia Maria Schio, o Prof. Dr. Eduardo das Neves Filho e que posteriormente fui agregado e que agora contamos com o Prof. Dr. Keberson Bresolin - existe um percurso, existe uma certa biografia. Esse tempo serviu para consolidar o trabalho da área de Filosofia no PIBID com o reconhecimento interno na universidade e o reconhecimento externo dada as participações, produções, estímulos que os bolsistas tiveram.

 

Dito isso, o próximo passo, no sentido de expectativa que tenho expresso para os bolsistas é que possamos trabalhar com a qualidade e, principalmente, com a responsabilidade. São dois pilares que considero importantes: 1) que se possa avançar, já que o projeto está consolidado, que se possa avançar na qualificação do trabalho e, 2) desenvolver uma consicência institucional, ou seja, se sabe que há um investimento institucional na medida em que pretende-se prepará-los para futuramente exercer a docência. Esses dois pilares geram uma expectativa para podermos fazer um bom trabalho, com a possibilidade de estender-se até 4 anos, o que eu considero um ganho para o discente que participa do PIBID. O bolsita sendo do primeiro ou segundo semestre e que participa dos projetos indo até o final da graduação, pode ter um diferencial importante no exercício da sua futura atividade. Sou otimista. Teremos conflitos, dificuldades, entradas e saídas. Enquanto grupo, enquanto coordenador eu tenho uma grande esperança em relação a esse novo começo.

 

PIBID Filosofia: Esse seria o seu segundo projeto PIBID - como você avalia o trabalho que você esteve dentro e quais são as maiores consequências que você consegue enxergar, enquanto um projeto de extensão para comunidade e formação do professor?

 

Pedro: Vamos por partes. Penso que para nós professores é uma oportunidade - é importante na medida em que nos dá e nos aproxima de uma realidade a qual muitos de nós desconhecíamos, ou seja, formávamos alunos para serem professores, mas não conhecíamos ou tinhamos pouco conhecimento da realidade das instituiçoes nas quais eles iriam atuar. Isso nos possibilitou ter esse acesso e conhecer a realidade. A partir do momento que se conhece a realidade passa-se a pensá-la, trás a discussão dessa realidade para dentro da universidade, isso incide sobre os professores e coordenadores.

 

Para os alunos também é importante na medida em que, a partir da sua formação acadêmica teórica ele já toma um contanto mais cedo, no seu processo de formação, com a realidade que ele vai defrontar, e não só no estágio que será mais a frente do curso, ou seja, já pode inclusive escolher se quer ser professor ou não. Ao conhecer a realidade, permite o formando fazer essa relação entre o teórico e a prática, ao identificar que o teórico muitas vezes não encontra espaço nessa prática. Ele vai tendo o exercício de diferenciar isso e de poder trabalhar com isso. Essa experiência me parece importante.

 

Em último lugar, ainda falta um estudo ou aprofundamento para ver qual é a repercussão que o PIBID tem nas instituições. Veja bem, nós temos determinadas instituições de ensino aonde há a entrada de um projeto vindo de uma Universidade e que de certa forma desacomoda a comunidade escolar. Às vezes no mal sentido, visto como coisa nova e diante do novo, geralmente, vive-se um processo de rejeição. Mas, também, desacomoda no bom sentido, na medida em que traz novas perspectivas, que dessaruma para arrumar novamente o que está dado naquela realidade. Do ponto de vista programático o PIBID cumpre um aspecto importante, tanto para a academia, tanto no nível das instituições externas, ao propor projetos, trazer coisas novas. Contribui para pensar aquela realidade, que os docentes, coordenadores e discentes se deparam.

 

Um elemento importante que me parece que poderia ser muito aproveitado ou melhor aproveitado, no sentido de dizer que deve ser valorizado, são os supevisores - o elo fundamental entre a instituição universitária e a instituição de ensino básico. Pois se o supervisor está vinculado com o projeto, o trabalho flui melhor. Para o próximo desenvolvimento desse novo PIBID, penso que devia haver um olhar muito atento e carinhoso em relação aos supervisores; uma valorização do seu trabalho.

 

PIBID Filosofia: Quanto ao novo PIBID, é como se tivesse morrido o velho e nascido algo novo. Ele traz consigo algum princípio que não havia no outro?

 

Pedro: Não necessariamente. Não sei se usaria ‘o velho que morreu’. Na medida em que tenho conversando com os professores que participaram, foi uma experiência extremamente nova, interessante e saudável. Porque isso tem implicações nos departamentos da Universidade em geral e, principalmente, no departamento de filosofia. Hoje temos no departamento de filosofia, em função do PIBID, uma outra perspectiva e preocupação quanto aos licenciandos que formamos. Já há um olhar para isso, os professores com uma preocupação maior, com projetos de integração e/ou reforma do currículo.

 

A experiência anterior esgotou-se. Atualmente temos algo que é novo, mas que guarda uma continuidade em termos de objetivos, ainda que com características diferentes. Houve um crescimento muito grande, aumentaram os participantes - logo o modo de operar vai exigir dos coordenadores. “A coisa não vai funcionar do mesmo jeito”. Esperamos nos organizar e operar de uma melhor forma possível, na medida em que temos a experiência anterior. Quando começa algo novo, há coisas e aspectos que tenho que aprender, mas já há uma experiência. A proposta fundamental é de que possamos qualificar futuros professores que vão atuar na sociedade em seus vários níveis.

 

PIBID Filosofia: A sua formação foi no período da transição da educação que havia na 'Ditadura Militar' para a 'redemocratização do ensino'. Como você avalia o 'ensino democrático' com a reintrodução da filosofia nos currículos e sua obrigatoriedade no ensino médio?

 

Pedro: Penso que há vários aspectos que podemos avaliar nessa questão da obrigatoriedade e da reinserção da filosofia no ensino médio estendida até o fundamental séries finais. Vejo como muito positivo, num primeiro aspecto tem-se uma certa impressão de que valoriza a filosofia ao inserí-la de volta num espaço que lhe foi tirado. Abre um espaço ou campo de trabalho para futuramente indivíduos atuarem e exercerem atividade filosófica como docente. Há uma carência de docentes no país e de filosofia muito mais. Com uma certa prudência, a questão dessa reinserção, ter o cuidado de não depositar na filosofia como aquela que vai resolver questões educacionais muito mais profundas. Significa que – quando há o processo de redemocratização, vincula-se a volta da filosofia e da sociologia ao ensino médio – elas são retiradas por um ato arbitrátrio de um regime que as via como subversivas. Um dos aspectos do processo de redemocratização é dar o lugar que foi tirado. Isso é uma coisa, mas outra coisa é colocar sobre os ombros a responsablidade que é muito pesada dada a estrutura educacional encontrada agora.

 

Nós vivemos numa escola de massa – na época a filosofia sai do ensino médio havia um contexto determinado não massificado. Após 30 anos o ensino de filosofia no ensino médio encontra um ambiente diferente. Vai ter que repensar as suas metodologias, seus conteúdos e suas formas de trabalhar. Em cima disso, ela encontra uma estrutura educacional que não propicia a atividade da filosofia, é quase impossível tratar de questões filosóficas de uma forma séria num período de tempo extremamente reduzido como é dado no currículo. Um período por semana de 50 minutos: daí vem o projeto PIBID que nos mostra que dos 50 minutos, 15 são para a chamada, alguns minutos para acalmar os alunos e daqui a pouco o professor já esta terminando a aula.

 

Além de garantir a chegada da filosofia no ensino médio é necessário garantir as condições de trabalho para que o professor possa exercer sua atividade. Uma das características lhe atribuída é tornar o indivíduo um cidadão reflexivo. Como eu vou formar um cidadão reflexivo e crítico se não há os meios necessários? Tem que haver uma prudência em relação a isso. É algo novo, é algo a ser construído, não está dado ainda. Os bolsistas e formandos de 5 a 6 anos pra frente serão os responsáveis por essa mudança. Mas penso que é um processo de construçãoem que não há nada consolidado, há processos a serem resolvidos inerentes a essa atividade e, posteriormente, ao seu exercício.

 

PIBID Filosofia: O que te levou a escolher as séries finais do ensino fundamental para trabalhar?

 

Pedro: Isso é um desafio para mim, eu sempre gostei de enfrentar desafios. Às vezes com êxito, às vezes não com êxito tão grande, mas eu sempre gostei de me colocar coisas para desafiar, para não ficar numa ‘zona de conforto’. Gosto desse desafio pois possibilita desenvolver minha criatividade. Não tenho, talvez, uma criatividade para arte. Mas, talvez, tenho uma criatividade filosófica no sentido de tentar criar algumas formas no âmbito da atividade filosófica que possam ser apresentadas de maneiras diferentes. Isso significa que há uma discussão já importante que me parece tomar outro rumo – a aceitação da filosofia no ensino médio.

 

No primeiro momento foi muito difícil porque os próprios professores de filosofia de muitas universidades tinham uma certa rejeição que a filosofia voltasse ao ensino médio. Mas isso parece que está sendo superado, prova esta que a ANPOF esse ano, como foi feito em 2012, está abrindo um grande espaço para discussão do ensino de filosofia no ensino médio. A ANPOF se constitui como a grande representação dos professores de filosofia no Brasil, atualmente. Está sendo dado um espaço que antigamente era imaginável mas, talvez, não factível. Bom, mas retroceder do ensino médio para o fundamental também é um grande desafio. Muitos que afirmavam que a filosofia era só para alguns e por isso sustentavam a ideia de que filosofia não teria uma repercussão positiva, ou um bom desempenho no ensino médio – transferem esse discurso para as séries finais do ensino fundamental. A filosofia com criança, que é uma das áreas que temos pesquisas e publicações, ainda tem um aspecto que gera certa rejeição. E ai eu tenho um desafio de poder trabalhar nesse aspecto, nessa área, nesse contexto para poder experenciar isso; poder falar que trabalhei e vivenciei isso. Poder fazer uma avaliação - se ela é factível totalmente ou só em algum ponto.

 

Esse é o desafio que vai me fazer estudar muito, por exemplo, autores não só da filosofia mas de teorias do desenvolvimento psíquico que é uma área nova para mim. Vai me exigir de um certo conhecimento, interlocução com outras áreas e vai me forçar a ter criatividade, pois não me sinto com permissão de executar o mesmo trabalho com aqueles indivíduos que desenvolveria com indivíduos na universidade ou no ensino médio. Isso vai exigir da minha parte e da parte dos bolsistas, um esforço muito grande. Teremos que ter um modo diferente, pois, às vezes há um reprodução, uma miniatura da aula da universidade. Se tentar transpor isso para o ensino fundamental nas séries finais se está certamente fadado ao fracasso, ou seja, vai exigir criatividade de todos que vão trabalhar. Isso me motiva a fazer um bom trabalho.

 

Considerações Finais

 

Pedro: Quero agradecer a oportunidade de falar, foram pertinentes e inteligentes as questões. Sem ser um sujeito muito eufórico, eu ainda acredito que é possível, sempre é possível usar a criatividade, investir e ter bons resultados no sentido de modificar uma realidade, ainda mais quando a gente identifica que ela é carente em alguns aspectos. Isso me motiva a exercer minha atividade enquanto professor de Filosofia tanto na universidade quanto no PIBID como coordenador. Tenho bem claro que não estou na “ponta”, mas posso contribuir para quem está lá, de modo que consigam às vezes, ou em algumas ocasiões, modificar aquela realidade.

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